Salina é a prova viva de que o trabalho de reabilitação pode ir muito mais longe do que a linha do horizonte. Esta tartaruga-comum, tratada no Porto d’Abrigo, o Centro de Reabilitação de Espécies Marinhas do Zoomarine, em Albufeira, percorreu 9.203 quilómetros em apenas 13 meses após ser devolvida ao mar, tornando-se agora um caso de estudo internacional em conservação marinha.
A história começou em 2021, quando Salina foi encontrada presa em redes de pesca no rio Guadiana, a cerca de 19 quilómetros do mar, debilitada e em risco de morrer. Foi resgatada e encaminhada para o Zoomarine, onde passou cerca de um ano em reabilitação, até recuperar peso, mobilidade e comportamento normais para poder voltar ao oceano.
Em julho de 2022, já recuperada, foi libertada ao largo do Algarve, a cerca de 12 milhas náuticas a sul de Faro, numa operação em conjunto com a Marinha Portuguesa, que tem sido parceira regular nestas devoluções ao mar. Na carapaça levava colado um transmissor de satélite, que permitiu acompanhar ao detalhe a nova vida de Salina em liberdade. Nos primeiros sete dias já tinha nadado quase 300 quilómetros; ao fim de seis dias tinha cruzado o Estreito de Gibraltar rumo ao Mediterrâneo.
O percurso impressiona. A tartaruga andou pelo Mar de Alborão, aproximou-se das costas de Marrocos e Argélia, passou pelas Baleares, contornou a Sardenha e acabou por se fixar no Mar Tirreno, entre a Sicília e a Calábria. A monitorização terminou ao fim de 392 dias, quando o emissor deixou de dar sinal, o que é normal, devido à duração limitada da bateria, mas garantiu que Salina sobreviveu pelo menos mais de um ano em plena atividade oceânica.