
Há muitas raças de cães que são portuguesas. Será que conhece todas? Apresentamos-lhe os patudos cem por cento nacionais
Seja no Continente ou nas Ilhas, são várias as raças de cães verdadeiramente portugueses
Já imaginou conhecer Portugal através dos cães? Cada raça conta um pedaço da nossa história: o pescador incansável que ajudava nas redes no Algarve, o guardião silencioso das serras geladas, o pastor atento que não deixava perder uma única ovelha. Neste artigo, vamos viajar do litoral às montanhas, passando pelas planícies alentejanas e até às ilhas, para descobrir as raças portuguesas e algumas das suas curiosidades mais fascinantes.
Cão da Serra da Estrela
Natural da Serra da Estrela, é considerada uma das mais antigas raças ibéricas de cães de montanha. Foi criado como guardião de rebanhos contra lobos e intrusos, resistindo a climas rigorosos e terrenos acidentados. Tem fama de ser independente, mas é extremamente fiel ao dono e ao território que protege. Caracteriza-se pelo porte imponente, musculoso e elegante, e pela pelagem densa, adaptada ao frio serrano.

Cão de Água Português
O Cão de Água Português é um verdadeiro tesouro nacional, tanto que já foi considerado “ajudante de pescador” oficial. Durante séculos, mergulhava sem hesitar para recuperar objetos caídos ao mar, conduzia cardumes para as redes e até transportava mensagens entre embarcações. O Cão de Água é considerado hipoalergénico e um excelente nadador, é capaz de aprender comandos com rapidez, sendo por isso muito usado em provas de obediência e até em terapias assistidas.

Podengo
O Podengo é uma das raças mais antigas de Portugal e também das mais versáteis. Criado como caçador de coelhos e outros pequenos animais, destaca-se pelo faro apurado, rapidez e enorme resistência. Existem em diferentes tamanhos e com duas variedades de pelo, liso e cerdoso, o que lhe dá um leque de aparências bastante variado. Apesar do instinto de caça, é um cão sociável, alegre e cheio de energia, que hoje conquista cada vez mais famílias pela seu ar carinhoso e pela ligação próxima que cria com os tutores.

Cão da Serra de Aires
O Cão da Serra de Aires, muitas vezes chamado carinhosamente de “cão macaco” pelo seu aspeto brincalhão e expressivo, é um pastor nato vindo do Alentejo. A sua pelagem é comprida, e tem uma textura áspera que o protege das variações de temperatura e do pó das planícies. Extremamente inteligente e atento, desenvolve uma ligação muito próxima ao tutor. E apesar da aparência desgrenhada, é um cão muito valorizado por pastores que precisam de um guardião de rebanhos, pois é rápido, ágil e com energia de sobra para passar dias longos no campo.

Castro Laboreiro
Com temperamento firme, mas profundamente ligado ao território e ao seu dono, o Castro Laboreiro sempre foi conhecido como o guardião destemido de rebanhos, enfrentando lobos e protegendo pastores em terrenos montanhosos. A sua pelagem, geralmente em tons cinza e acastanhados ajudam-no a camuflar-se na paisagem rochosa, como um verdadeiro disfarce natural. Tem uma longa longevidade e há até relatos de animais que viveram até aos 18 anos, algo raro em raças de porte grande.

Cão de Fila de São Miguel
Este é o guardião dos Açores, mais precisamente da ilha de São Miguel. Criado para trabalhar com o gado bovino, é conhecido pela sua coragem e pela forma enérgica como conduz e protege manadas. Uma curiosidade fascinante é que, apesar do porte imponente e da fama de cão "mauzão", o Fila de São de Miguel desenvolve uma ligação muito próxima com a família e pode ser extremamente afetuoso. A sua pelagem curta, tigrada e resistente à humidade é também um traço característico, conferindo-lhe uma aparência única.

Cão de Gado Transmontano
O verdadeiro gigante das serras de Trás-os-Montes, criado para proteger rebanhos contra predadores como o lobo ibérico. O seu tamanho impressiona: é a maior raça portuguesa e uma das maiores da Europa, podendo ultrapassar facilmente os 70 quilos. Mas, por detrás da imponência, esconde-se um cão calmo, paciente e extremamente leal. Uma curiosidade interessante é que, devido à sua eficácia contra ataques de lobos, este cão é utilizado em programas de conservação da vida selvagem: ao proteger o gado de forma natural, reduz os conflitos entre pastores e predadores, ajudando a preservar o equilíbrio ecológico.

Perdigueiro
O Perdigueiro é um dos mais antigos cães de caça da Europa, com raízes que remontam à Idade Média, e foi desenvolvido para a caça à perdiz (daí o nome). De porte médio, corpo robusto e olhar expressivo, é um cão que alia resistência com grande sensibilidade ao dono. Para além da destreza na caça, destaca-se pelo temperamento afetuoso e equilibrado, o que o torna também um excelente cão de família. A sua pelagem é curta e densa, geralmente em tons amarelados ou acastanhados.

Rafeiro Alentejano
De porte gigante, musculoso e com uma presença imponente, é um cão de guarda nato, mas com um temperamento calmo e ponderado quando está em família. A sua pelagem, geralmente curta a média, pode ser preta, amarela, tigrada ou malhada, sempre densa o suficiente para resistir às noites frias da região. É o guardião tradicional das planícies alentejanas, criado para proteger rebanhos contra lobos e intrusos durante as longas viagens entre montes e vales.

Barbado da Terceira
É uma raça oriunda da ilha Terceira, nos Açores, onde foi usado durante séculos como cão de pastoreio e de guarda. De porte médio a grande, o Barbado da Terceira destaca-se pela pelagem abundante e desgrenhada, que lhe dá o aspeto de ter uma “barba”, a característica que lhe conferiu o nome. É um cão vigoroso, inteligente e muito ágil, adaptado às necessidades das explorações agrícolas açorianas.

Cão do Barrocal Algarvio
É uma das mais recentes raças portuguesas a ser oficialmente reconhecida, com origem na região do Barrocal, no Algarve. Criado como caçador de coelhos, destaca-se pela agilidade, resistência e faro apurado, características moldadas pelo terreno pedregoso e irregular onde se desenvolveu. De porte médio e musculado, apresenta pelagem curta e espessa, em cores muito variadas: do ruivo ao preto, passando pelo cinzento e até combinações malhadas ou tricolores.

Hoje, muitos destes cães já não precisam de trabalhar no campo ou na pesca como antigamente, mas continuam a guardar essas qualidades únicas: coragem, resistência, inteligência e uma ligação especial aos seus humanos. Já conhecia estas raças portuguesas?